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Em vídeo, professora diz a alunos que homossexualidade “tem todos os problemas”, em Posse.


Uma professora da rede municipal de educação de Posse, no nordeste goiano, foi filmada em sala de aula enquanto discutia com estudantes sobre relações homossexuais. No vídeo, a mulher identificada como Maria Elizete Anjos afirma que “homem ficar com homem e mulher ficar com mulher têm todos os problemas” e que para uma pessoa ser bissexual “só pode estar com uma maldição”. "Quem quiser me chamar de homofóbica, pode chamar", diz ela ainda. O caso aconteceu na última quinta-feira (11), no Colégio Municipal Castro Alves, com a turma do 1º ano do Ensino Médio.

Maria Elizete é professora de Inglês e da disciplina Projeto de Vida, que faz parte do novo Plano Nacional de Educação (PNE), implementado no ano passado, e que tem como objetivo ajudar os estudantes a desevolverem suas habilidades e refletirem sobre desejos e objetivos. Em nota, a docente afirma que “em momento algum quis contranger ou macular qualquer pessoa, gênero ou grupo de pessoas”, mas afirma que pode ter escolhido “mal algumas palavras”. A professora declarou ainda que, por conta da matéria, o debate sobre temas sensíveis à vida dos alunos é necessário, havendo o risco de “opiniões e interpretações equivocadas."

Nos vídeos, é possível ver que a discussão começa quando a professora responde uma aluna depois que esta diz que é bissexual. Ela pede para que a estudante espere e que dê um tempo para que possa refletir. “Se olhe no espelho, tira a sua roupa, você é mulher e mulher fica com homem”. Neste momento, uma outra aluna se indigna com a fala de Elizete, mas a professora continua. “Tem mulher que fica com mulher e, para você dizer que é bissexual, você só pode estar com uma maldição”. Em um outro vídeo, a professora diz que “o homem foi feito para a mulher e a mulher para o homem” e o que foge disso "em vários problemas."

Ao POPULAR, o secretário municipal de Educação do município, Manoel Carlos Nasser, informou que na sexta-feira (12) foi realizada uma reunião com a professora e os pais dos estudantes. Ele informou ainda que está esperando a ata da reunião para reconhecer a situação, mas que as secretarias de Educação e de Administração vão abrir um processo adminsitrativo para averiguar a conduta da professora.  

Professora será denunciada

De acordo com o policial rodoviário federal e membro da Rede Nacional de Operadores de Segurança Pública LGBTI+ (Renosp), Fabrício Rosa, a entidade, a professora Maria Elizate será denunciada à Polícia Civil por homofobia nesta segunda-feira (15).

A denúncia, segundo Fabrício, será formalizada no Grupo Especializado no Atendimento às Vítimas de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Geacri) pela Renosp, Comissão de Diversidade da OAB e outros órgãos e entidades.

O que diz a professora

Diante da repercussão do caso, a professora Maria Elizete declarou o seguinte:

"Venho com todo respeito e acatamento registar veementemente que não são verdadeiros os supostos comentários homofóbicos atribuídos a mim.  

Primeiro porque como é sabido, a homofobia representa uma aversão irreprimível, repugnância, ódio, preconceito contra a população LGBTQ+.  

Na condição de professora há mais de 30 anos de Língua Inglesa e de Projeto de Vida, sendo que esssa última, permite e conduz a discussões  dos mais diversos temas relacionados à vida dos estudantes.  Sempre lutei e prezei para que todos merecessem respeito seja pela suas condições, palavras e pensamentos notadamente no âmbito de uma democracia livre e plural.  

Evidente que temas sensíveis também acabam sendo tratados em sala de aula, conquanto o risco de opiniões e interpretações equivocadas.  

No caso concreto ao se analisar atentamente todo o contexto e os diálogos, em momento algum quis constranger ou macular qualquer pessoa, gênero ou grupo de pessoas.  

Ainda que eventualmente possa ter escolhido mal algumas palavras, em momento algum estas se amoldam ao reprovável conceito de homofobia.  

Não obstante isso, desde já, transmito meus sinceros pedidos de desculpa a quem tenha se ofendido, e me mantenho sempre a disposição para o diálogo e ao debate crítico e honesto.  

Atenciosamente,  

Prof. Elizete Anjos"

O que diz a Prefeitura

Já a Prefeitura de Posse, por meio da Secretaria Municipal de Educação, informou que realizou reunião com a direção da escola, a professora, pais e alunos e que aguarda "a ata da reunião para dar andamento às providências cabíveis para resolução do caso de forma imparcial."

A pasta diz ainda que "não compactua com quaisquer manifestações de preconceito ou discriminação decorrente da orientação sexual, raça, credo, origem étnica, posicionamento político ou grupo social."

Veja a nota na íntegra:

"Nota de Esclarecimento:

Em relação ao caso na qual uma servidora do quadro de funcionários da Secretaria Municipal de Educação e Cultura de Posse-GO aparece em vídeo gravado pelos alunos do Colégio Municipal Castro Alves emitindo julgamento moral quanto à orientação sexual durante aula no dia 11 de Agosto de 2022 esclarecemos que:

O caso, que chegou ao nosso conhecimento no dia 12 de Agosto de 2022 está sendo averiguado.

Foi realizada reunião pela direção do colégio na qual participaram a professora, pais e alunos que acompanhados de seus responsáveis legais foram ouvidos.

A Secretaria Municipal de Educação e Cultura de Posse aguarda a ata da reunião para dar andamento às providências cabíveis para resolução do caso de forma imparcial, garantindo a isonomia, preservando a lisura dos procedimentos e o respeito às legislações vigentes.

A Secretaria Municipal de Educação e Cultura não compactua com quaisquer manifestações de preconceito ou discriminação decorrente da orientação sexual, raça, credo, origem étnica, posicionamento político ou grupo social.

A SEMEC adotará todas as medidas cabíveis para apurar os fatos e reforçará por meio de suas políticas pedagógicas um programa de combate ao preconceito, à homofobia e outras formas de discriminação.

A escola é o espaço da ética, justiça, dignidade, respeito, responsabilidade, amizade, honestidade, solidariedade, autodisciplina, amor, confiança, compreensão, paz e fraternidade.

As atitudes isoladas de um profissional não devem desabonar o trabalho da equipe do Colégio Municipal Castro Alves.

O caso seguirá sendo tratado no âmbito administrativo e as repostas serão fornecidas em tempo para que sejam respeitados os trâmites necessários.

A SEMEC se coloca à disposição frente às instituições da esfera jurídica colaborando com as autoridades, caso necessário.

Secretaria Municipal de Educação e Cultura"


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