O suspeito de matar uma paciente de 75 anos no Hospital de Urgências Estado de Goiás Dr. Valdemiro Cruz (Hugo) é o morador de rua Ronaldo do Nascimento, de 47 anos, segundo a Polícia Civil. Ele permaneceu cerca de 4 horas na unidade e chegou a tomar banho no local, antes da morte de Neuza Cândida, por volta de 17h30 desta quinta-feira (7).
O suspeito foi preso em flagrante, passou por audiência de custódia nesta sexta-feira (8) e teve a prisão convertida em preventiva. Em depoimento na Central de Flagrantes, o policial militar que atendeu a ocorrência disse que uma paciente que estava na enfermaria e presenciou o fato contou a ele que o homem se dirigiu imediatamente à Neuza Cândida logo após entrar no quarto.
Segundo depoimento, o suspeito dizia que queria ajudar a paciente, que recusou. Em seguida, o homem foi para o banheiro tomar banho. Ao retornar para o quarto, Ronaldo voltou ao leito de Neuza e subiu em cima da vítima, momento em que a paciente faleceu, de acordo com depoimento.
O policial relatou ainda a versão do suspeito. Ronaldo alegou que ouviu a vítima pedindo ajuda e resolveu limpar a traqueostomia, quando ela mexeu com a boca como se estivesse recusando ajuda. O suspeito disse que decidiu limpar a boca da paciente e, com o buraco da traqueostomia tapado com o dedo, provocou a morte de Neuza, sem intenção.
O velório de Neuza Cândida acontece nesta sexta-feira (8) em Goiânia. O sepultamento está previsto para 10 horas de sábado (9), em Anápolis, cidade natal da família.
Investigação
Ronaldo do Nascimento disse que é morador de rua e vive na região do Jardim Novo Mundo, em Goiânia. O delegado responsável pelas investigações, Rhaniel Almeida, ouviu novamente o suspeito na manhã desta sexta-feira (8), na Delegacia de Investigação de Homicídios (DIH). “Ele manteve o discurso de que não teve intenção de matar, que estava querendo ajudar. Em vários momentos ele apresenta um discurso desconexo, aparentando ser uma pessoa inimputável”, contou o delegado ao POPULAR.
A investigação deve solicitar à Justiça um Incidente de Insanidade para averiguar o estado mental do suspeito. “A versão dele é muito confusa. Disse que foi lá buscar segunda via de documentos, que havia sido internado no Hugo. De fato encontrei registro que ele teve documentos furtados”, disse Rhaniel, que ainda não vê motivação para o crime. “Ele nega que quis matar, mas ao mesmo tempo ele diz que mexeu no aparelho”, explica.
A Polícia Civil solicitou câmeras de segurança do Hugo, que mostram, segundo o delegado, Ronaldo do Nascimento caminhando pelos corredores do hospital e entrando nos quartos. A polícia apura como Ronaldo conseguiu entrar no hospital. “Houve uma falha de segurança”, disse o responsável Rhaniel. O suspeito teria passado cerca de 4 horas no hospital, entre 13h30, quando chegou, até 17h30, momento em que a PM foi acionada.
Dois funcionários do Hugo e a paciente que presenciou o fato serão ouvidas na segunda-feira (11). A Polícia Civil aguarda o laudo cadavérico e o exame complementar do Instituto Médico Legal (IML) para confirmar a causa da morte. Informações preliminares repassadas à polícia não verificaram sinais de asfixia no cadáver. “Tem que ter uma certa prudência, o cadavérico não saiu. Não tem nem a certeza de que foi homicídio”, explica Almeida.
"Nem a família conseguia entrar"
Filha da paciente morta, a técnica em enfermagem Daniela Cristina, de 44 anos, disse ao POPULAR que conhece Ronaldo do Nascimento de vista, mas que nunca teve contato e sequer sabia seu nome. Ela afirma já ter visto o suspeito no Conjunto Cidade Vera Cruz II, em Goiânia, onde sua mãe morava.
Daniela conta que recebeu uma ligação do Hugo por volta de 16h10 informando que havia uma pessoa se identificando como Ronaldo, afirmando que era acompanhante de Neuza Cândida. A técnica em enfermagem disse que não autorizou a entrada do desconhecido e afirmou que ele não é da família. “Quando foi às 19 horas minha tia me ligou avisando que tinha entrado uma pessoa na enfermaria e asfixiado ela”, conta.
Neuza Cândida estava internada no Hugo há três meses, quando foi diagnosticado um coágulo na cabeça que seria consequência de uma queda. A vítima precisou passar por uma cirurgia e ficou em coma. “Ela lutou muito para ficar viva, ela ficou na UTI, vários dias em coma, lutou muito para sobreviver. Aí do nada aparece um louco desse, consegue entrar no Hugo, sendo que nem a família conseguia entrar lá por causa da pandemia”, desabafa.
Daniela disse que sua mãe aguardava uma transferência, nesta sexta-feira (8), para o Hospital Estadual de Dermatologia Sanitária e Reabilitação Santa Marta (HDS) para realizar um tratamento de três meses com antibiótico e, seguida, receber alta hospitalar. A filha da vítima disse que a família não recebeu assistência do Hugo e que estão arcando com todos os custos.
Nota do Hugo
No tocante aos acontecimentos veiculados em mídia relacionados ao último dia 07/04/2022, a Direção do HUGO informa que os fatos encontram-se em investigação pela Polícia Civil e Diretoria do Hospital.
A direção lamenta profundamente o ocorrido e está revisando integralmente os protocolos de segurança para evitar futuros episódios, ao tempo que presta total assistência à família.
Por fim, a Direção do HUGO reforça o seu comprometimento com o atendimento assistencial de excelência e com a máxima humanização.