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ENEM DIFÍCIL ESCANCARA FRAGILIDADES DO SISTEMA EDUCACIONAL BRASILEIRO


Um dos fatos mais conhecidos pela população brasileira é que o Estado é incapaz de prover educação superior para todos, assim como uma educação básica de qualidade. Nesse contexto, para dificultar o acesso, às questões do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) são elevadas a níveis irreais de dificuldade. E o objetivo é claro, excluir justamente aqueles que foram negligenciados ao longo dos anos de formação anteriores ao vestibular, recaindo, obviamente, contra as camadas mais vulneráveis da sociedade.

Para equilibrar o “jogo”, muitos acreditam que o melhor caminho é criar mecanismos legais que permitam a determinados grupos sociais acessar o ensino superior. Na prática, porém, isso reforça sentimentos revanchistas já presentes no conflito entre ideias reacionárias e progressistas – e esse embate não se limita ao campo político, mas também ao cultural, entre o antigo e o novo. São soluções que podem até aliviar os sintomas, mas não resolvem os problemas centrais: a baixa qualidade da educação básica e a insuficiência de vagas no ensino superior.

Mas quem, de fato, querem enganar? Até mesmo entre as cotas e os programas de acesso às universidades privadas existem critérios meritocráticos que, de uma forma ou de outra, continuam excluindo muitos que desejam estudar. Isso contradiz o papel que o Estado deveria exercer: ser um agente neutro, responsável por fornecer serviços públicos sem excluir ou reforçar ideologias.

Em última instância, o ENEM não deveria ser um filtro que escancara desigualdades, mas sim um instrumento de democratização do acesso ao ensino superior. Enquanto o Estado não assumir a responsabilidade de garantir uma educação básica sólida e universal, qualquer mecanismo de seleção continuará sendo injusto, por mais que se tente suavizar seus efeitos com políticas paliativas. A raiz do problema está na ausência de investimento consistente e na falta de prioridade dada à formação das novas gerações.

Portanto, discutir apenas cotas ou programas de inclusão sem enfrentar a precariedade estrutural da educação é como tentar curar uma doença grave com analgésicos. O verdadeiro desafio é construir um sistema educacional que seja inclusivo desde o início, capaz de preparar todos os estudantes para competir em condições reais de igualdade. Só assim o Brasil poderá transformar o ENEM em uma porta de entrada legítima para o futuro, e não em mais um espelho das desigualdades que insiste em perpetuar.


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