A alta no preço do leite longa vida tem assustado o consumidor nas últimas semanas. Nesta quinta-feira (9), o litro do produto já era encontrado por até R$ 5,99 no comércio da capital. O reajuste acumulado de janeiro a maio deste ano chega aos 21,3% e, em 12 meses, a alta no varejo já é de 24,5%, segundo o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), divulgado mensalmente pelo IBGE. Entre os motivos para esta alta, está o recuo da produção no campo, por causa da saída de muitos produtores da atividade.
De acordo com o presidente da Comissão de Pecuária Leiteira da Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás (Faeg), Vinícius Correia, a estimativa é que cerca de 10 mil produtores tenham abandonado a atividade nos últimos dois anos. Com a oferta reduzida, os preços para o produtor subiram. O resultado tem sido uma queda na produção goiana, estimada em mais de 3% para este ano.
Com a oferta reduzida, os preços para o produtor reagiram nos últimos meses e estão cerca de 20% maiores. Segundo Vinícius Correia, atualmente os valores recebidos variam de R$ 2,50 a R$ 3. Neste mesmo período do ano passado, a cotação média era de R$ 2,07, segundo o Instituto para o Fortalecimento da Agropecuária em Goiás (Ifag). Já o preço chamado leite spot, que é mais caro por ser comercializado em maior volume das cooperativas para os laticínios goianos ou entre as próprias indústrias do setor, já varia de R$ 3,35 a R$ 3,55.
“Este cenário é resultado do abandono da atividade por muitos produtores e de uma política, muitas vezes, leonina por parte dos laticínios, que pressionam pela queda nos valores pagos ao produtor”, avalia Vinícius. Outra forte pressão, segundo ele, veio da alta nos custos de produção, que praticamente triplicaram nos últimos dois anos.
Para o pecuarista, os valores atuais remuneram o produtor, mas não se sabe por quanto tempo eles continuarão nestes patamares mais elevados, já que há sempre uma pressão por quedas. Porém, desta vez, ele não acredita num recuo a curto prazo. “Está faltando leite no mundo todo. Os valores atuais são os maiores já alcançados no leilão internacional”, destaca.
Margens
O Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) da Universidade de São Paulo (USP) confirma que o avanço do preço do leite ao produtor é consequência da diminuição da produção no campo, principalmente por causa do aumento dos custos de produção e da entressafra. Com isso, os preços dos derivados do leite também subiram no mercado, como os iogurtes e bebidas lácteas, que hoje estão 18,3% mais caros que no mesmo período do ano passado em Goiânia.
O diretor executivo do Sindicato das Indústrias de Laticínios do Estado (Sindileite), Alfredo Luiz Correia, lembra que a produção mundial de leite vem caindo, assim como a brasileira. Outro impacto vem da seca no Sul do País e do início da entressafra no Centro-Oeste. “A pecuária leiteira também viveu um período de muitos abates de vacas e muitos produtores migraram para o plantio de grãos. O parque industrial não pode ficar sem leite, com a menor oferta, prevalece a lei da oferta e procura, que aumenta os preços”, explica o executivo.
O resultado imediato da alta nos preços, segundo Alfredo, é o recuo das vendas, pois o consumidor já está com o orçamento muito pressionado pela inflação. Para ele, também há uma margem de lucro elevada no varejo, que é estimada entre 20% e 30% no caso dos derivados do leite, segundo os valores no atacado e os preços médios praticados nas gôndolas. “Hoje, a indústria vende o quilo do queijo muçarela por uma média de R$ 33 a R$ 35. Já no supermercado, todos vemos que o preço atual oscila numa faixa entre R$ 45 e R$ 50 para o consumidor”, diz o diretor do Sindileite. Segundo ele, o leite longa vida é vendido por R$ 4,20 a R$ 4,50 no atacado.