Investigadora avaliou que depoimentos das mulheres mostram consistência do investigado na forma de agir. Defesa afirma que ele não realizou 'procedimento médico com cunho sexual'.
A Polícia Civil já reuniu dezenas de relatos de pacientes que contaram terem sofrido algum tipo de abuso sexual do ginecologista Nicodemos Júnior Estanislau Morais, de 41 anos. A delegada Isabela Joy disse que os depoimentos são consistentes e, entre eles, há registros de mulheres que o médico tentou agarrar e beijar. Ele foi preso suspeito dos crimes em Anápolis, a 55 km de Goiânia e nega as acusações.
“Temos diversos relatos de vítimas que ele tentou agarrar, beijar, fez que tocassem nos órgãos genitais dele, vítimas que ele abusou durante o parto, que sofreram depressão pós-parto por causa dele”, descreveu Isabela.
Nicomendes foi preso na quarta-feira (29) no seu consultório - um vídeo mostra a Polícia Civil chegando ao local com o mandado de prisão do profissional.
Em nota, a defesa do médico disse que teve acesso apenas a algumas partes do inquérito e que, até então, “consta somente o simples exercício profissional” e que “em nenhum momento realizou qualquer tipo de procedimento médico com cunho sexual”. Além disso, ressaltou que outras pacientes se dispuseram a depor em favor dele.
A delegada contou que o modo de agir do investigado é sempre o mesmo com todas as mulheres que denunciaram.
"Relatos muito iguais. As palavras, o modo de agir em todos os crimes com todas as vítimas é igual. Ele usa das mesmas palavras, mesmos atos libidinosos", completou.
Segundo ela, já foram ouvidas 41 mulheres e outras 20 estão agendadas para prestar depoimento nesta sexta-feira (1º).
Força-tarefa
A Polícia Civil criou uma força-tarefa para dar conta da demanda devido ao alto volume de denúncias, que podem ser feitas por meio do 197.
A corporação já recebeu ligações de mulheres fora de Anápolis: Pirenópolis, Goiânia, Abadiânia e até do Pará. "Até o momento temos ideia de umas 52 ou 54, mas creio que nós podemos chegar até umas 100 vítimas", disse Isabella.
De acordo com a delegada, foram convocadas mais agentes mulheres e escrivãs para atender as vítimas. O médico era investigado por violação sexual, mas deve responder também por estupro de vulnerável.
“Nós temos uma vítima que foi [abusada] quando tinha 12 anos, então, foi estupro de vulnerável”, avaliou.
Segundo as investigações, o médico já foi condenado pelo mesmo crime no Distrito Federal, em 2019. Mas, como era réu primário, ele não foi preso. Ainda de acordo com a corporação, ele também foi denunciado no Paraná, mas o caso foi arquivado em 2018. A corporação não disse o motivo.
O Conselho Regional de Medicina do Estado de Goiás (Cremego) informou, por meio de nota, que soube das denúncias contra o profissional na quarta-feira (29) e que "vai apurar o caso e a conduta do médico no exercício profissional".
Relatos
Entre as denúncias, está a da Kethlen Carneiro, de 20 anos, que procurou a corporação para relatar que foi abusada por ele quando ainda tinha 12 anos.
“Ele veio me falar que eu podia começar a me masturbar. Me mostrou histórias em quadrinho pornô e vídeos. Me mandando os links e quais eu podia assistir. Depois levantou, pegou minha mão e colocou nele, na parte íntima dele", disse.
Outra paciente relata que foi abusada pelo ginecologista durante o atendimento. Ela decidiu falar sobre o caso após a prisão do médico.
“Ele teve conversas inadequadas, me mostrou sites obscenos, brinquedos eróticos e tocou em mim não da forma que um ginecologista deveria tocar. Quando ele colocou minha mão da parte íntima dele, sabe?”, disse a paciente, que não quis se identificar.
A vítima conta que fez o pré-natal com o médico e precisou de acompanhamento após o parto por problemas hormonais. O abuso relatado teria acontecido em uma das consultas.
“Quando ele começou a me tocar, tirou a minha camisola e começou a passar a mão pelo meu corpo. Foi a partir desse momento que eu vi que não era algo que um ginecologista deveria fazer”, completou.
Outra mulher também teve coragem de falar sobre o crime somente com a prisão do suspeito. Ela disse que, durante uma consulta no ano passado, o médico elogiou seus olhos e também o órgão sexual. Em seguida, perguntou sobre sua relação sexual com o marido.
“Eu fiquei congelada e ele fazendo manipulações, isso tudo com os dois dedos introduzidos na minha vagina. Eu não consegui nem respirar no momento. É uma situação que a gente nunca espera que vai acontecer”, contou.